30 março 2011

6ª Sinfonia de Anton Bruckner - Interpretação

Depois que se passa a contemplar e entender - um pouco - a música de Bruckner e Sibelius, fica um pouco dificil deixar de pensar muito nelas, há sempre um desejo de voltar-se a tais. Mês que vem a OSSA vai apresentar a 6ª de Bruckner, que não era muito conhecida minha, então, como não gosto de ouvir música 'a primeira vista', pois normalmente, não faz muito sentido, é mais dificil refletir e compreender, pois tudo soa novidade; então esta semana já a ouvi atenciosamente umas 8 ou 10 vezes, duas ótimas versões, uma de Haitink e outra de Karajan. É substancialmente diferentes. Karajan é mais virtuoso atentando-se mais para a beleza, alegria, paz, tende a ser mais brilhoso e agudo, com mais destaque a sessão dos trompetes. Enquanto Haitink é um pouco mais misteioso, obscuro, mais profundo, talvez apegando-se mais ao aspecto sereno e religioso; há um destaque maior para a harmonia, e os graves, há muita força na sessão dos trombones. Dessas duas, ouvi mais a do Karajan, e foi a que melhor compreendi e fez sentido. Então tomarei ela por base.

Aspectos Gerais
Se percebe que ela possui algumas diferenças das demais sinfonias do autor. Vamos assim dizer, ela pode-se considerar "Terrestre", enquanto as outras eu considero-as "extra-terrestres", pintam um novo mundo, um outro lugar, não aqui. Ao mesmo tempo, ela é extremamente subjetiva, no sentido, de sempre parecer ser uma expressão do coração de um personagem, uma pessoa. É uma pessoa expressando seus sentimentos e emoções. Ou mais ambicioso ainda, é um convite a encanarmo-nos como este personagem. Como a maioria de suas sinfonias, segue uma estrutura de sonata. E também apresenta poucos temas, 2 principais, facilmente reconheciveis, praticamente duas melodias simples e bem bonitas, que são retomadas por diversas vezes na obra.

1º Movimento
Em geral é uma introdução e apresentação dos temas, que serão desenvolvidos na sinfonia, principalmente no 3º e 4º mov. o que vem a ocorrer no 2º chega como uma surpresa, aparentemente. Destaco alguns trechos (da versão de karajan).
(mm:ss)
5:40 –  Um tema de paz , solene,beleza, ao mesmo tempo solene e profundo começa a ser construído.
6:20 – uma breve retomada mais determinada, porém, um pouco mais melancólica, sobre este tema em construção.
8:20 – Entra o tema da exortação, quase que uma aventura, uma curtição, como uma festa, mas uma festa profunda do personagem. Há energia e poder.
Ps: As trompas por diversas vezes fez uma textura rugosa, rachada, aparentemente indevida; pelo menos não é mais uma bela colina, mas um rústico platô ou cânion.
13:10 – O grande tema volta, mas de forma muito mais solene, serene, perene, profundo, mas que vai crescendo.

2º Movimento
É puramente trágico, assim começa e vai se desenvolvendo, como um tipo mais 'inteorizado' de marcha funebre. Mas que no final há uma transformação. O que mais me sugeriu este movimento foi uma pura idéia cristã sobre arrependimento e perdão divino. De inicio mostra toda essa maleza e obscuridade do terror, da angustia, da desolação, da autodestruição, como quando fazemos um grande mal a quem amamos, e também perdemos algo de grande valor por burrada nossa. Mas que no final da música, isso vai se transformando, como que após confeçar os pecados, isso vai se passando, e sendo tomado por luz, paz, esperança... É um movimento caracterizado pelo trágico e a esperança.

9:00 - doloroso para a alma, aflito
0:30 - há grande desejo; arrependimento. Passa a crescer uma certa libertação, raio de luz.
12:10 - mudança... beleza... a paz em produção... libertação.. grande gratidão por uma libertação, por um presente, imerecido.
16:00 em diante: uma investigação, profundidade, um lento processo de limpeza, purificação, ascendencia... sendo tomado por uma atmosfera celeste.
Encerrando, com paz, alma, tranquilidade, um grande folego, respiração profunda, relaxado, feliz... sereno... um descanso para quem passou por uma grande labuta.

3º Movimento
Inicia com algum tipo de cordialidade, anuncio, como qdo se soa as trombetas para anunciar a chegada de um rei em seu castelo.
1:00 - é um outro terreno, (comp. ao mov 2) outro lugar... é incrivel, maravilhoso, belo... e está sendo descoberto...Não consegui desvendar se se trata da nova condição do homem (renovado, restaurado, perdoado, tranformado), ou um novo lugar (como um Novo Céu).
2:45 - Entra uma introspecção sobre o ocorrido no passado, e o presente agora, nesta 'nova condição' ou 'realidade'.

Até o final é este cenário... sempre com novas ressalvas, e assim termina.. com aqueles mesmo clarins iniciais, não mais de "boas-vindas"... mas já como uma canção que tomou o coração pulsante da pessoa, um desejo de pular, louvar, dar aquelas clarinadas.. descobresse que não é um "anuncio de chegada"... mas um extrondo de estar muito impressionado, contente, grato, feliz, maravilhado.

4º Movimento
É uma grande evolução do 3mov. como um bom tempo após... agora mais misterioso, grandioso, celestial, com descobertas mais profundas, majestosas
2:30 - Entra um grande solene e profundo pensamento, mas do qual brota grandes maravilhas;

aos poucos surgem introspecções... grandiosos, até mesmo mesmo tenebrosas... altevez, uma certa recordação das angustias passadas...;

5:00 - Se cresce, as maravilhas, gratidão da libertação... é como um caminhar tranquilo, com pulos alegres, por longas planicies, calmas, nos Alpes, com as enormes montanhas de fundo, numa paisagem, relaxante, confortamente... é aparentemente uma plenitude de beleza e contemplação. [fica mais claro o paisagismo dos Alpes Austriacos, e o bucolismo]

se aproximando do final... vai tomando um profundo carater reiligioso... até nos 12: e tantos... vai tomando uma mistura de tudo isso... como uma tentativa de "auto-exposição"... um cenário mais belo que os Alpes... cheio de gratido, alegria, paz, harmonia, bem-estar

14min. em diante - um sonele apelo? E em seguida: um chamado, despertar?

E de certo modo, assim terminou para mim, os ultimos clarins, que alguns chamos de "considerações finais" ou "despedida" ou "agradecimentos": Um apelo!
Algo assim: 
"Olha o que está perdendo?", "Olha o que está preparado?", "Olha o que está disponivel para nós!" É grandioso! È maravilhoso! É incrivle! É belo! [É um extrato de esperança e bons ânimos!!!]

Se queres, ouvir... no youtube, a melhor gravação que achei, um pouco mais semelhante com a versão do Haitink é esta de Celibidache:



27 março 2011

Sinfonia 2 de Mahler - Bernstein - IMPERDÍVEL

Mahler e Bernstein. Uma grande combinação. Em geral, não costumo muito gostar do Bernstein, aprecio muito a sonoridade que consegue, impecável. Mas acho-o tão exageradamente romantico em suas interpretações que me lembra uma criança pulando de alegria e que não sabe se conter; isso, muitas vezes, faz perder um pouco daquela sensação de profundidade e 'instrospecção' da música, mas um foco muito no "curtir o som". De tal modo, que não gosto de nenhuma dele tocando Bruckner, entre alguns outros. Já nas do Mahler, até que se sai muito bem. Ainda mais, pois tudo isso que disse do Bernstein, acho que é bem o perfil de Mahler em suas composições, que eu a grosso modo chamo de "exagerado". Prova clara disso é a Sinfonia dos Mil (a 8ª de Mahler). Contudo, esta interpretação do Bernstein é de tirar o chapeu, só a forma como ele consegue se expressar já é incrivel! Apesar que o Haitink que não gesticula e se expressa tanto, também aprecio muito, costumo dizer que algumas de suas músicas parece que cada instrumentista parece estar inspirado e toca como se estivesse solando em conjunto.


Apreciem! Para aqueles impacientes, vejam pelo menos o ultimo video. É imperdível! E som na caixa, volume nos ultimos! (espero que seu fone de ouvido pegue bem os graves)

Movimento 1






Movimento 2




Movimento 3




Movimento 4


Movimento 5







Largo (Xerxes) - Handel

Handel, admiro muito sua obra! Ele tem uma visão King James de expressar cristianismo através da música. Quando digo King James me refiro a famosa versão inglesa da Biblia, que possuia aspectos maravilhosos e únicos de uma linguagem nobre, firme, cativante, que sempre mostra autoridade e ao mesmo tempo, uma sensibilidade poética nas palavras. Acho que o famoso Hallellujah mostra bem isso. Ao mesmo tempo, em outras músicas vemos a sensibilidade do que chamaria de uma "atmosfera celeste", como podemos ver no 3º mov. da 9ª de Beethoven e 8ª de Bruckner, em muitas obras de Sibelius; nesta de Handel, algo mais bucólico diria eu. Quem está tão desalmado ao ponto de não poder apreciar a beleza dessa música?

(Infelizmente, o video só pode ser assistido no youtube.)